terça-feira, 14 de setembro de 2010

Parte 2 - Sobre o Fim.


Lembro-me dela dizendo: “Não. Não aqui. Não agora. Não quero ter que me lembrar disso toda vez que olhar pra cá, da janela do noss... Do meu quarto. Não quero lembrar sempre, do dia em que você terminou comigo no mesmo lugar onde nos conhecemos. No lugar onde tudo começou. Tudo está acabando agora e eu não consigo entender... Eu só queria saber o porque, Edu. Por que?”
E então ela chorou, e me colocou pra fora do noss... Seu apartamento. 
É claro que eu não lhe disse o real motivo. E desapareci por semanas, meses. E quando liguei para saber se estava tudo bem, ela apenas chorou, e disse "não me ligue mais, já basta o mal que me causou".
Então eu percebi o quanto ela sofria. E também me perguntava todos os dias: "Por que?"

E agora, estou sentado no mesmo lugar. Onde tudo começou. Onde muita coisa aconteceu. Onde tudo terminou. Sentado na mesma areia, debaixo do mesmo céu estrelado, encostado na mesma arvore e olhando em direção ao seu prédio, no terceiro andar. No seu andar. E ela está lá, sentada na varanda. Talvez esteja olhando a lua. Alice sempre gostou de noites assim, quentes e estreladas. Talvez seja por isso que decidiu morar em frente à praia. Está linda como sempre. 

E agora, diante disso eu posso ver que fui um tolo. Não, na verdade eu sempre soube que era um verdadeiro babaca, mas deixar Alice foi a MAIOR babaquice que eu já fiz na vida. Ela sempre foi perfeita pra mim. Ela era doce, meiga, engraçada, sempre estava bem humorada, agüentava minhas chatices, e pra isso você tem que ter uma certa vocação, diga-se de passagem. Eu não tinha motivos pra terminar. E achava que também não tinha motivos pra continuar. Estávamos juntos a três anos, e quando descobri que tinha câncer achei melhor esconder isso dela, e terminar o namoro. Eu não queria comprometer sua vida. Logo surgiriam idéias de casamento, e o que ela faria com um marido que de uma hora pra outra pode não acordar? Ou até pior, se eu não morresse de uma vez, Alice corria o risco de ter que me acompanhar em meus piores momentos. Teria que me acompanhar na quimioterapia, acompanhar todo o processo, me ver fraco e com o cabelo caindo. Eu não queria isso, Alice não merecia isso. Também não merecia que eu terminasse o namoro com uma simples frase: “apenas não gosto mais de você”. Eu fui cruel, e agora me arrependo. Mas preferia que ela me visse como o babaca que a perdeu. E não que ela se lembrasse de mim e começasse a chorar em lembrar da minha imagem em uma cama de hospital.

Não acho que Alice ia me querer de volta. Eu não ia querer se fosse ela.
Mas a verdade é que só com ela eu fui realmente feliz.
E agora?
Agora eu só consigo me lembrar dela me dizendo pra ir embora e nunca mais aparecer na frente dela.
Fui obediente até hoje, um ano depois do termino do namoro. E é engraçado perceber que mesmo um ano depois, parece que foi ontem. 



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